quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Le Reveillon

Ah! O Reveillon, substantivo importado do francês, festa de confraternização realizada na noite de 31/12, em família, entre amigos, ambos, ou até só. Envolta pela embriaguez do álcool, da fantasia e da esperança de que após o estouro dos fogos de artifício e do espumante à meia-noite do dia 01º, "daqui pra frente, tudo vai ser diferente", novo, melhor, "tente, invente, faça um 2008 diferente". Particularmente, não percebo nada de diferente, a não ser durante aquela sensação de deja vù que muitos passam em todo início de ano, na hora de se concentrar para preencher o cheque com o ano correto. Aliás, pensando bem, apenas o número muda, pois a sensação vem e volta...

Percebo portanto, uma continuidade, dia após dia, a mesma coisa, despertador, soneca, despertador, banho, metrô cheio e muito quente, trabalho, trabalho, trabalho, almoço, depressão pós-prato, café, trabalho, sono, café, trabalho, sono, café, trabalho, metrô cheio e muito quente, casa, sono. Quando as férias se aproximam, entra uma etapa que se repete muitas vezes ao longo do dia, "só faltam n dias para entrar de férias!" Ah! Esqueci de mencionar a contagem regressiva, para o dia do pagamento, eu a faço diariamente.

Pior que a festa em si, são as coisas que a antecedem e que terão influência direta ou não, na sua comemoração.

Primeiramente, a retrospectiva, ou o balanço do ano, somamos, dividimos, multiplicamos, subtraimos e obtemos um resultado positivo, ou não! Dependendo dos fatores e respectivos pesos etc.. Daí, naquela festança, na casa de um amigo, após a 5ª taça de espumante, você compartilha com o primeiro estranho com quem esbarra, "Meu 2007 foi uma meerrrrda! Separei, engordei, um FDP inútil ocupou a vaga que eu tanto queria lá no escritório e ainda voltei a fumar." e segue despejando sobre o pobre coitado, mais uma infinidade de desgraças dignas de um folhetim mexicano. Por sorte, o estranho solidário retruca, "O meu também foi uma meerrrrrda, mas eu já sabia que seria assim, ano ímpar dá azar, é sempre assim!" afirma vestindo a máscara de quem entende muito de numerologia entre outros temas esotéricos. No mesmo instante, mesmo sem se lembrar do que almoçou naquele dia, faz uma rápida mini retrospectiva de todos os seus anos ímpares e conclui magicamente, que foram todos lamentáveis, inclusive você se casou num ano ímpar! "Cara, você tem toda razão!" A partir daí, o estranho e você se tornam grandes amigos, compartilham também as resoluções para 2008, mais clichês que todos os filmes americanos de ação juntos, emagrecer, beber menos, voltar à academia, blá, blá, blá, identicas às dos anos anteriores. Esse último parágrafo poderia ser diferente se...
O estranho por ser naturalmente antipático, ou por ainda não estar simpático o suficiente para lhe agüentar (pois está na primeira taça de espumante), ignora completamente as suas lamúrias ou ainda, ao contrário de você diz, "Tive um ano maravilhoso, casei, passei a lua de mel em Veneza e em Paris, fui promovido. Mas meu amigo, estou apreensivo com o próximo ano. Os anos pares trazem má sorte. Prepare-se!" Alerta-lhe com a mesma máscara de esotérico entendido... Confuso, você pede licença para pegar outra taça de espumante, mas na verdade, deseja tornar real a última profecia deste guru. Não somente para você, mas para uma ou mais pessoas que seu pesado corpo atingir, quando cair da janela daquele lindíssimo apartamento na Avenida Atlântica.

Depois de fazer a retrospectiva 2007, é hora de escolher onde passar o Reveillon. As opções são muitas. Primeira, celebrar no apartamento em Copa, daquele seu grande amigo e é lógico que 30 minutos antes da virada, seus amigos, seus conhecidos se unirão a milhões de desconhecidos que vivem ali, ou no Brasil, ou no exterior, nas areias de Copacabana para a tão aguardada queima de fogos (e de tiros também!), uma celebração... impessoal e previsível! "... 5, 4, 3, 2, 1, Feliz Ano Novo!", "Olha os fogos no céu!", "Oh!", "Agora no Forte!", "Oh! Que lindo!", "Feliz Ano Novo!", "Olha a cascata do Meridién!", "Oh!", "Qual é mesmo o nome novo do Le Meridién?" Aliás, estar no Rio durante o mês de Dezembro, tem um item embutido no pacote, que é exercitar bastante a paciência, para enfrentar engarrafamentos dignos de São Paulo. É impressionante o transtorno que a Àrvore da Bradesco Seguros, localizada num dos cartões postais do Rio, a Lagoa Rodrigo de Freitas, pode causar. Com cada vez mais efeitos especiais e cada vez mais alta para se manter no Guiness ("Oh!"), esta natalina árvore atrai uma multidão de pessoas que lota a ciclovia e as pistas de veículos em seu entorno, para admirar seus efeitos de luz e agora, a dança das águas! Ou seja, causa nós no trânsito de todos os bairros das zonas norte, sul e oeste da cidade. Ninguém escapa impune deles. No começo, achava a idéia interessante, até embelezava a cidade. Hoje, participo da comunidade "Odeio a Árvore da Lagoa" no Orkut. Eu ainda procurarei por uma ONG ambientalista, que jure de pés juntos, que esta árvore afeta o ecossistema, a fauna e a flora da Lagoa, que gasta muito energia elétrica, que não é sustentável... Peraí, o Bradesco não é o Banco do Planeta?!? Para completar, ainda não sei se é verdade, mas me parece que os recursos para montá-la, mantê-la e desmontá-la são oriundos da Lei Rouanet de incentivo a cultura?!? Que cultura?!? De engarrafamentos?

Voltando as opções de festas... Terceira - sim, terceira opção mesmo, calma que você vai entender - alugar uma casa em alguma cidade serrana, para fugir dos megacongestionamentos nas rodovias, dos que optam pelos litorais fluminense ou paulista, que é a segunda opção de muitos! (Entendeu agora?) Quarta opção - somente para abonados - passar o Reveillon sob a neve, na charmosa Paris ou na consumista Nova York. Como ainda não sou abonado (isso mesmo "ainda", pois um dia serei), poderia ter me juntando a outros 10 mil brasileiros e passar o Reveillon em Buenos Aires (a quinta opção!), já que a mesma quantidade de argentinos (ou até o dobro) invadirá o litoral catarinense, mais precisamente, Florianópolis (a sexta opção!). Há outras possibilidades que não cabem mais mencionar.

E apesar de saber de tudo isso, optei pela segunda!!! Sim, eu achei que viajando no dia 30/12, domingo, não haveria engarrafamentos. Afinal, as pessoas que viajariam, já haviam ido na sexta-feira, no sábado, ou quiçá na quinta-feira. Programei-me para tomar o ônibus que sairia do Rio de Janeiro às 08:30, com escalas em Angra dos Reis, em Paraty, uma 2ª parada em Paraty para comer, mais duas escalas em Ubatuba, em Caraguatatuba e finalmente em São Sebastião destino final. Quando o piloto rezou o itinerário completo, comemorei por não ter que fazer conexão, quero dizer, trocar de ônibus em alguma destas escalas. A esta altura, já estava me sentindo em um vôo da Gol para o nordeste brasileiro. Por um lado, foi pior que os vôos nacionais desta companhia, pois a viagem foi literalmente Come Zero, já que nem as abomináveis barrinhas de cereais foram servidas. Por outro, só que para melhor - Ufa! Ainda bem - era que as poltronas reclinavam e bastante! A previsão otimista, ou seja, sem trânsito, era de chegarmos às 16:00 em São Sebastião. Nisso, dei-me conta, de que o itinerário ditado pelo motorista, significava que iríamos pela bela, porém sinuosa e lenta Rio-Santos. E antes mesmo de entrar nesta rodovia, o meu otimismo se evaporou por completo na altura de Santa Cruz, quando o piloto passou para a velocidade média de cruzeiro de 10 km/h, por umas duas horas aproximadamente. Ou seja, às 18:10, finalmente cheguei à casa onde estavam meus amigos. Foram "somente" 9 horas e 50 minutos de viagem e mesmo assim, valeu a pena! Ah! Lembrei-me. Feliz 2008!

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